Grande Rio e Mangueira se destacam em primeira noite irregular do Rio Carnaval 2023
Salgueiro e Tijuca fazem apresentações regulares; Mocidade e Império Serrano terão dificuldades para se manter na elite do carnaval carioca
- Detalhes
- Vicente Almeida
- Grupo Especial
- 20 Fevereiro 2023 - 09:16
A primeira noite de desfiles das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro foi bastante irregular. Praticamente todas as escolas cometeram algum erro ou apresentaram um quesito deficiente que pode atrapalhar os planos de campeonato na apuração de quarta-feira de cinzas. Mangueira e Grande Rio fizeram as apresentações mais consistentes da noite. Mesmo assim, ambas devem perder pontos importantes em quesitos como Comissão de Frente. Na Mangueira pela simplicidade da apresentação e na Grande Rio, que apostou no carisma e na simpatia de Zeca Pagodinho para buscar o bicampeonato, por causa de um problema com o elemento alegórico que estava travado e deve tirar pontos preciosos da escola.
Problema parecido teve o Salgueiro, mas no quesito enredo. Apesar do desfile luxuoso e de acabamento impecável, o enredo apresentado era confuso e nem quem era Salgueiro conseguia entender o que o carnavalesco pretendeu mostrar. Além disso o samba também teve um rendimento aquém do esperado e acabou prejudicando a harmonia da escola. A Unidos da Tijuca fez uma passagem digna e não deve passar sustos na apuração. Em contrapartida, torcedores de Mocidade Independente e Império Serrano, provavelmente, terão uma quarta-feira para testar seus exames cardíacos. Duas das mais tradicionais agremiações do carnaval carioca colecionaram erros em sua passagem pela Avenida de devem disputar ponto a ponto a briga pela permanência no Grupo Especial para 2024.
IMPÉRIO SERRANO
De volta ao Grupo Especial, o Império Serrano pisou forte na Avenida para homenagear o cantor e compositor Arlindo Cruz, com o enredo “Lugares de Arlindo”, desenvolvido pelo carnavalesco Alex de Souza. Com uma abertura imponente, a escola de Madureira causou belíssima impressão na primeira noite de desfiles das grandes escolas do Rio de Janeiro, especialmente pelo refino na parte visual. Apesar do samba valente e do esforço de Ito Melodia, que após mais de vinte anos deixou a União da Ilha, o canto da escola foi bastante irregular. Algumas alas cantavam apenas os refrões. A evolução também deixou a desejar. Apesar do bom início de desfile, a segunda metade não sustentou o ritmo e foi bastante irregular, o que deve complicar a escola para se manter no Grupo Especial.
ACADÊMICOS DO GRANDE RIO
Cantando a vida de Zeca Pagodinho, a Grande Rio, atual campeã do carnaval carioca, entrou na Marquês de Sapucaí disposta a buscar o bicampeonato. Como aconteceu nos últimos anos, o trabalho estético da dupla de carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora, mais uma vez, estava impecável no desenvolvimento do enredo “Ô Zeca, o pagode onde é que é? Andei descalço, carroça e trem, procurando por Xerém, pra te ver, pra te abraçar, pra beber e batucar”. Destaque para o carro que representava a festa de Cosme e Damião no subúrbio da cidade do Rio de Janeiro. A Alegoria tinha tantos elementos que merecia passar diversas vezes pela Avenida para que as pessoas conseguissem pegar todas as referências que os carnavalescos materializaram.
O samba e a bateria de Mestre Fafá novamente seguraram o bom ritmo de desfile da escola, inchada pelo sucesso recente. Segunda escola a passar pela Avenida, a Tricolor de Caxias pegou arquibancadas frias e o desfile só esquentou com a passagem do homenageado pelos setores. No mais, o início da passagem foi repleto de tensão por conta de um problema no elemento alegórico da comissão de frete que não funcionou corretamente na apresentação para os julgadores e deve tirar preciosos décimos da escola de Duque de Caxias na apuração da próxima quarta, colocando fim ao sonho do bicampeonato.
MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL
Dona de alguns carnavais marcantes nos últimos anos, a Mocidade Independente entrou na Marquês de Sapucaí disposta a mostrar para todos que as dificuldades enfrentadas no último ano e o conturbado período pré-carnavalesco ficaram no passado. Falando da obra de Mestre Vitalino, com o enredo “Terra de meu Céu, Estrelas de meu Chão”, do carnavalesco Marcus Ferreira, a Verde e Branca da Zona Oeste fez uma passagem simples, trabalhada em tons únicos e jogos de luzes para valorizar as composições das alegorias.
Porém, a escola de Padre Miguel fez uma de suas apresentações mais apagadas de sua história. Esteio da escola em momentos difíceis, o componente independente desfilou triste e de cabeça baixa, o que raramente se viu na história da escola. Praticamente todos os quesitos apresentaram algum tipo de problema. O destaque positivo ficou com a bateria Não Existe Mais Quente, que vive grande fase sob o comando de Mestre Dudu, e com o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Diogo de Jesus e Bruna Santos, que apesar de problemas de acabamento na fantasia mostraram muita garra e fibra para defender o pavilhão da Estrela Guia de Padre Miguel. Presença constante nos últimos desfiles das campeãs, a escola terá dificuldades para se manter no Grupo Especial para 2024.
UNIDOS DA TIJUCA
Outra escola que passou por momentos conturbados no período pré-carnavalesco, a Unidos da Tijuca deu a resposta na Avenida e fez uma apresentação bastante digna, apesar de modesta. O carro de som comandado por Wantuir de Oliveira e sua filha, a intérprete Wic Tavares, embalou uma das melhores harmonias da noite. O componente tijucano abraçou o samba e mostrou a força da harmonia tijucana de outros carnavais. Outros destaques foram a comissão de frente comandada por Sérgio Lobato e a bateria “Pura Cadência” de Mestre Casagrande.
Já a parte estética ficou devendo tanto nas fantasias como nas alegorias. Apesar da ideia de viajar pela Bahia através da magia baiana, o desenvolvimento do enredo "É onda que vai… É onda que vem… Serei a Baía de Todos os Santos a se mirar no samba da minha terra", do carnavalesco Jack Vasconcelos, sucumbiu às referências simples e lugares comuns que tantas vezes já vimos passar pela Passarela do Samba.
ACADÊMICOS DO SALGUEIRO
Disposto a encerrar o jejum que dura catorze anos, o Salgueiro se reformulou e contratou o carnavalesco Edson Pereira e o coreógrafo Patrick Carvalho. Com requinte e força, a escola levou para a Avenida o enredo “Delírios de um Paraíso Vermelho”. Os pontos positivos foram a apresentação do casal de mestre-sala e porta-bandeira, Sidclei e Marcella Alves, além do conjunto visual, certamente, alegorias e fantasias mais luxuosas da primeira noite de desfiles do Grupo Especial do Rio de Janeiro. Outro ponto alto foi a comissão de frente que fez corpos saírem da tumba e flutuarem na Avenida.
Apesar do brilho e do capricho na parte visual, a escola Tijucana deve perder precisos pontos, especialmente no quesito enredo que, mesmo com o livro abre-alas de apoio, foi mostrado de maneira bastante confusa e, desta vez, nem que é Salgueiro conseguiu entender o que o carnavalesco desejava mostrar na Avenida. Outro quesito que deixou a desejar foi o samba de enredo que teve um rendimento bem aquém do esperado, apesar do esforço de Emerson Dias e da bateria “Furiosa” dos mestres Guilherme e Gustavo. Depois de retornar ao microfone principal da Vermelha e Branca tijucana no carnaval de 2019, o intérprete Quinho se afastou para se submeter ao tratamento de um câncer.
ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA
Com um dos melhores sambas do carnaval, a Estação Primeira de Mangueira, pisou na Marquês de Sapucaí quando o dia estava clareando. Com a dura missão de reinventar a Verde e Rosa, após a saída de Leandro Vieira que foi para a Imperatriz Leopoldinense, os carnavalescos Annik Salmon e Guilherme Estevão trouxeram para a Avenida o enredo “As Áfricas que a Bahia canta”, que proporcionou um desfile leve e fugindo dos lugares comuns que um enredo que envolve a Bahia pode sugerir.
Além da dupla de carnavalescos, a noite também foi de estreia para a porta-bandeira, Cintya Santos, que estreou no Grupo Especial depois de defender a Porto da Pedra no Grupo de Acesso. Substituído Squel Jorgea que se aposentou depois de conquistar dois títulos pela Verde e Rosa, Cintya não se intimidou e, ao lado do mestre-sala Matheus Olivério, fez excelente apresentação. Claudia Mota assumiu a comissão de frente que até o último carnaval estava sob o comando de Priscila Mota (irmã de Cláudia) e Rodrigo Negri que foram para Viradouro.