A hora é Elza! Mocidade entra na briga pelo campeonato

Em uma noite de apresentações bastante irregulares, Verde e Branca da zona oeste mostra que tem força para brigar com Viradouro e Grande Rio

 

Uma segunda-feira de desfiles do Grupo Especial como há muito tempo não se via no carnaval carioca. Com apresentações bastante irregulares, algumas monótonas, seis escolas passaram pela Avenida na última noite de desfiles. Destoando do nível mediano das agremiações, a Mocidade Independente de Padre Miguel sobrou no meio da turma e com um enredo sobre a cantora Elza Soares, um dos maiores nomes de sua história, se credenciou para brigar com Viradouro e Grande Rio pelo título do carnaval.

 

Depois do vexame de 2019, a Beija-flor de Nilópolis contou com a força de sua comunidade e junto com Salgueiro e Vila Isabel se juntam a Portela e Mangueira na briga por três vagas que devem restar no desfile das campeãs, já que os primeiros lugares devem ser ocupados por Mocidade, Viradouro e Grande Rio. A São Clemente fez uma apresentação correta, que deve deixar a escola da zona sul carioca longe do rebaixamento, especialmente depois das passagens de Estácio e Ilha no domingo. Outra que deve ficar pelo meio da tabela é a Unidos da Tijuca que, apesar da volta do carnavalesco Paulo Barros, fez uma apresentação apagada na noite desta segunda.

 

SÃO CLEMENTE

Responsável por abrir a última noite de desfiles das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro, a Preta e Amarela da zona sul levou para a Avenida um enredo crítico, uma das marcas registradas da escola. Diferente do desenredo apresentado pela União da Ilha na noite anterior, o carnavalesco Jorge Silveira conseguiu com muita competência carnavalizar o tom crítico do desfile sobre os jeitinhos brasileiros no enredo “O conto do vigário” em uma apresentação com fantasias e alegorias de boa concepção, apesar da referência de esculturas baseadas em desenhos da Disney e até na nave espacial do antigo “Xou da Xuxa”. O samba de autoria do humorista Marcelo Adnet, não teve um bom desempenho, deixando a apresentação morna. Adnet, por sinal, desfilou fazendo diversas referências ao presidente Jair Bolsonaro, como gestos de armas com os dedos e flexões com as pernas apoiadas no chão. Fantasiada de laranjas, a Fiel bateria foi um dos destaques da apresentação.

 

UNIDOS DE VILA ISABEL

Quando a Unidos de Vila Isabel apontou no primeiro setor de arquibancadas da Marquês de Sapucaí ficou a sensação que finalmente a escola viria com tudo para disputar novamente o título de campeã do carnaval carioca. A comissão de frente, novamente sob o comando de Patrick Carvalho, fez uma apresentação memorável, desde a dança, a coreografia e até pelo espetacular elemento cenográfico que compôs a apresentação. O suntuoso carro abre-alas chamou atenção pelo gigantismo. Foi então que começaram os problemas da escola. Problemas de pintura e acabamento apareceram em quase todas as alegorias e algumas fantasias da escola de Martinho. O enredo sobre Brasília, desenvolvido pelo carnavalesco Edson Pereira, ficou cansativo e não fugiu do lugar comum de outras vezes que passou pela Avenida. Enquanto Tinga se esforçava para fazer o samba da escola render, a bateria da escola sob o comando de mestre Macaco Branco dava um show de ritmo na Avenida com suas paradinhas perfeitamente encaixada nas características da Swingueira de Noel. Um dos pontos altos da passagem da escola.

 

ACADÊMICOS DO SALGUEIRO

Terceira escola a pisar na Marquês de Sapucaí, o Salgueiro levou para a Avenida um enredo sobre o circo que teve como marca o requinte e bom gosto do carnavalesco Alex de Souza. O primor das alegorias e o capricho na concepção das fantasias apareciam a cada ala que entrava na Passarela do Samba. O carro com elefantes no picadeiro, o pede passagem com o nome da agremiação, o figurino e o elemento cenográfico da comissão de frente foram alguns dos destaques visuais do desfile. Mais uma vez, um dos pontos fortes da escola foi a apresentação do casal de mestre-sala e porta-bandeira, Sidclei e Marcella Alves. Porém, novamente, a Vermelha e Branca da Tijuca deixou a desejar em quesitos chave. O samba de enredo não teve bom rendimento e prejudicou a harmonia em determinados momentos da apresentação. Assim como os pecados em evolução devem tirar o Salgueiro da briga pelo campeonato.

 

UNIDOS DA TIJUCA

Reatando o casamento com o carnavalesco Paulo Barros, que conquistou três títulos pela escola em 2010, 2012, 2014, a Tijuca levou para a Avenida um enredo sobre a história da arquitetura. Reconhecida como uma das comunidades que mais canta em seus desfiles, a escola não repetiu o desempenho de outros anos, apesar do bom samba de Dudu Nobre e companhia, do esforço do intérprete Wantuir e da competente bateria de mestre Casagrande. Reconhecida como um dos rolos compressores da Avenida, os componentes da Azul e Amarela foram desanimando durante a passagem da escola e o desfile terminou com uma espécie de melancolia. Algumas falhas em evolução, alegorias pequenas para os padrões atuais e problemas de acabamento em fantasias e alegorias devem impedir que a Tijuca volte a figurar entre as grandes escolas do Grupo Especial.

 

MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL

A Mocidade Independente levou para a Avenida uma homenagem em vida para aquela que é um dos maiores nomes da escola de todos os tempos. Elza Soares é a rainha de um panteão que habitam figuras como Mestre André, Castor de Andrade e Ney Viana. Cria da Vila Vintém, Elza merecia ser cantada em prosa e verso recheados de emoção. Emoção que não faltou na apresentação da Estrela Guia de Padre Miguel. Durante toda passagem da escola muitos componentes estavam chorando, especialmente àqueles que vivem o dia a dia da escola mais de perto. O samba de enredo composto por Sandra de Sá, Igor Viana, filho do lendário Ney Viana, e companhia mexeu com o coração do Independente que cruzou a Passarela do Samba. Como se tornou tradição nos últimos anos, a comissão de frente comandada por Jorge Teixeira e Saulo Finelon, foi um espetáculo à parte, levando para a Avenida hologramas projetados em ventiladores que formavam o nome da homenageada do enredo na cabeça de cada uma das dançarinas, além de um belo mosaico de discos.

 

Em seu ano de estreia, a jovem porta-bandeira, Bruna Santos teve a responsabilidade de carregar o pavilhão da escola pela primeira vez ao lado do mestre-sala Diogo de Jesus, que retornou à Mocidade após o título de 2017. O entrosamento entre o intérprete Wander Pires e a bateria Não Existe Mais Quente, comandada por mestre Dudu é algo que precisa ser destacado. Dudu e Wander parecem ter nascido um para o outro, colocando o andamento do samba de enredo na cadência perfeita para a eterna bateria de Mestre André. Porém, nem tudo foram flores na passagem da Verde e Branca pela Sapucaí. A parte plástica, desenvolvida pelo carnavalesco Jack Vasconcelos deixou a desejar. O artista abusou das legendas e, muitas vezes, alegorias e fantasias ficaram visualmente poluídas. Mesmo com esses problemas a Mocidade novamente deve brigar pelo título de campeã do carnaval.

 

BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS

Encerrando as apresentações do Grupo Especial do Rio de Janeiro, a Beija-Flor de Nilópolis entrou na Avenida disposta a deixar para trás sua pior colocação desde que conquistou o campeonato de 1976. O décimo primeiro lugar de 2019 parece mesmo ter mexido com os brios do componente nilopolitano que rasgou o asfalto da Passarela do Samba com uma garra poucas vezes vista. Se a parte plástica, especialmente das alegorias, deixou a desejar, a força da comunidade nilopolitana esteve presente para segurar as pontas em um desfile que se não foi espetacular, passou corretamente pela Avenida conquistando pontos técnicos e se credenciando para retornar ao desfile nas campeãs, no próximo sábado.

 

O samba da Azul e Branca da Baixada Fluminense teve bom rendimento aliado a bateria de mestre Rodnei, que novamente fez uma apresentação bastante eficiente, assim como o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Claudinho e Selminha Sorriso. Com sucatas de carro em meio a apresentação, a comissão de frente de Marcelo Misaillidis investiu bastante nas coreografias para representar os exus presentes nas ruas, uma das abordagens do enredo desenvolvido pela comissão de carnaval nilopolitana.

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